quinta-feira, 18 de junho de 2009

Pandemônio!


Seguindo a proposta da professora Claudia Presser Sepé, professora de Português para a Comunicação na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, aqui vai o primeiro da série de textos produzidos em aula. Aqueles alunos que tiverem interesse em ter o seu texto publicado aqui, eu o farei com o maior prazer, contanto que ele tenha qualidade, claro.
Este aqui foi produzido pelo aluno Claudio Renato Azevedo Filho. Sem mais delongas, boa leitura.
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- Cachaça! Cachaça! Cachaça!

Foi só o que pude gritar quando vi que a hecatombe estava para acontecer.

Cachaça tinha a “profissão” de mendigo não fazia muito tempo. Antes, ele era meu irmão. Ufa! Não gosto de falar nisso que fico lembrando nosso tempo de guri. Lembro que era divertida a sua ingenuidade:

- Pedro! Vem ver filme com o mano.

- Tá mano! Já vou! Que filme que é?

- Aquele do Piracicaba Pastadô!

- Que tu desenhou pra mim?

- Sim, aquele animal que o mano desenhou pra ti...

Eu inventava tudo que se podia imaginar para brincar com ele, afinal, esse é o papel do irmão mais velho. Não é mesmo?

É engraçado, sempre me sentia como pai dele. Talvez por ter chagado dez anos antes neste mundo, talvez por instinto, mas, seguidamente, me sentia pai dele. Certamente foi por isso que sofri tanto quando ele se perdeu.

Quando Pedro tinha 5 anos, já dava pra notar sua impulsividade. Era esquentado e, como minha avó dizia: Muito bardoso (baldoso)!

De outro lado, por mais fértil que possa ser minha imaginação, jamais pensaria que meu pequeno irmão fosse virar um traste humano! Um gambá de boteco! Como dizem meus amigos:

- Vi teu irmão ontem.

- Não tenho irmão!

- Tá, vi o Pedro Cachaça.

- Onde?

- Não te interessa, tu não tens irmão...

- Cala essa boca poetinha de merda! Fala logo!

- Na escadaria da igreja, ali no centro, igual um mendigo.

- Chega! Não diz mais nada!

- Tu que perguntou! Porra!!!

Realmente aquilo era difícil para mim. Por isso, penso eu, não conseguia falar com ele desde a copa de 90. Lá se vão longos 8 anos.

Não que fosse de grande valia minha profissão, motorista de ônibus. Digna, e é isso que me sustenta pra seguir adiante. Por dirigir muito, sempre fui cuidadoso no trânsito. Já vi muita coisa feia pelas ruas dessa cidade.

Naquele autêntico sábado de sol... BUM!!! BEING!!!BOUFT!!! ...

- Afasta essa gente! Afasta essa gente!

- Polícia! Sai fora! Sai! Sai! Sai!....

- Quebra a porta! Arranca a porta fora pelo amor de Deus!

- Não tá dando!

- Fogo!

- Não dá pra ver! A fumaça tapou tudo! Onde?

- Ali ó!

- E o cara que ficou no meio?

- Caralho, esse já era! Vamos salva os outros!

- Jesus amado! Vai morrer todo mundo nessa merda!....

Não lembro do acidente que ocorreu comigo, só lembro que estava pensando na vida. Sei as coisas que me contam. Dizem que ainda gritei: Cachaça! Cachaça! Cachaça!

Mas não lembro.

O Nicanor, o Poeta, viu tudo. Diz ele que eu vinha pela João Correa com meu “Centralão”, quando a Scania carregada de frango atravessou na minha frente. Justa, ou, injustamente na hora que meu Pedrinho estava atravessando a rua.